Morte Maria

Morte Maria
Diz que crianças que crescem em meio a uma guerra 
Se tornam adultos insensíveis à morte
Creio que em meio à uma pandemia seja assim também 
Estou falando do futuro
Das crianças 
Mas no presente todos se tornam insensíveis 
Com a morte arrudiando 
Nos outros
Só nos outros 
Os amigos morrem, como pode ?
Mas é uma pandemia
Poderia ter sido meu parente
Vem o sentimento de alívio 
Mas era minha amiga de infância 
Ontem mesmo eu vi ela sorrindo
Quem será o próximo?
Digo à minha irmãzinha 
É por isso que gente tem que amar 
Porque eu amanhã não sei!
Ei, ela cuidava da família toda
Era boa demais pra esse mundo
Deixou sensibilidade
Viu como a morte não escolhe?
Ela passou tão perto.
Na noite anterior, minha irmãzinha disse estar escutando choros
Num tá escutano não, as pessoas chorano?
Mas o silêncio pairava na comunidade
Todos dormiam com as galinhas
Num tá escutano mermo não?
Ta ficano é doida esse menina, disse a mãe.
No outro dia a Célia correu no mundo chorando e se tornou a visagem do lamento
Minha filha morreu!
Minha filha morreu! 
Ele poderia derreter-se nos braços de Oxum
Foi a Maria bolinha!
Maria bolinha era um apelido colocado na época de escola
Foi uma época cruel
Ela não concluiu nem ensino fundamental 
Foi trabalhar pra sustentar a família
Construiu uma casinha de tijolos pra mãe morar dentro 
E pagava pensão para sustentar os sobrinhos 
(A mãe disse que minha irmãzinha sente as coisas.)
Eu nuca imaginei que ela iria morrer na juventude 
Imaginando ela da época de escola da vida
Acho que nunca imaginei 
E mesmo sentindo alívio por não ser parente meu
Quero lembrar Maria 
Chorar Maria 
Cantar Maria 
E me revoltar Maria. 

Comentários

  1. boa poesia,
    minhas condolências por Maria,
    mas vida e morte anuncia
    que aceitar o dia a dia é cultivar de Sabedoria,
    isso quem disse foi Maria...

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  2. quis escrever:

    (...) cultivar sabedoria rs

    ResponderExcluir

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