O vento

As vezes o vento avoa as folhas grandes
As vezes o vento não é mais vento
As vezes
Só as vezes
Aqui na varandinha da casa do Jô
As vezes ele vem andando na varandinha nu 
O meu preto 
As vezes ele vem pra cima e o vento sopra
As vezes ele só para
Durante a tarde as telhas da Lage avermelha e bate uma nostalgia 
E vai escurecendo e os postes de luz encadeiam
Desejo derrubar as luzes artificias pra ver as estrelas 
Desejo que a lua rosa os detenha
Mas que nada
O vento ainda suave 
E a falta dele quando decide abafar
Ele veio e me beijou no pescoço com o dentes metálicos tampando o sorriso
O meu preto nu
Olho a máscara estraçalhada do tempo
Pendurada no varao
E desejo que o vento a balance
Pra desabafar
As folhas grandes coçam me expulsando
Imagino como pode sua raiz existir sem terra
Do lado da varandinha
Se nutre dela mesmo
Enquanto não tem espaço pras folhas que caem
Sem nutrientes da terra 
Ele balança os dreads sentado me olhando
O meu preto 
E o vento desabafa em meus cachos
E na máscara que balança
A falta da Santa caia me enlouquece
Procurando a brisa no vento
E as estrelas não conseguem brilhar 
E o desejo de derrubar aqueles portes
Benfica, não pode cair!
Pelo menos ainda meu preto
Sentado vou pra cima.

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