Carta da Torre


- Babacão! - pensou sobre o colega de quarto que ria feito uma criança babaca, no seu cômodo.

- Babacão!? - refletiu com risos de choro.

- Gostaria de ser apenas uma babacona!

Olhou para a própria pele seca e esverdeada e levou a mão à barriga com uma angustia ferida.

Lembrou-se da Carta de Torre que a avisava nas cartas de torô.

O desmoronar!

Lembrou-se da reportagem na tv relatando um prédio semiconstruído que topou pro lado.

O dono passou mal ao saber da perda e foi esbarrar no hospital.

Ficou com medo de esbarrar do hospital também.

"Dentro de mim já não bate um só coração."

Estava escrito no chaveirinho de coração branco, feito de crochê, que caiu na sala do laboratório antes mesmo do resultado.

Sentiu duas lágrimas involuntárias esquentando seus olhos.

Nesse momento já havia decidido aquele destino ouvindo Francisco, el hombre.

Já havia ouvido falar muito de aborto e defendia, mas é a primeira vez que pensava no assunto com os hormônios a flor da pele verde.

Mais do que nunca aquele aperto representava um passado de babaquice acriançada, mas não cuidar de uma criança.

Precisava  livrar-se  daquele feto involuntário imediatamente e ia, mesmo que fosse necessário pular da torre!


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