Terceira margem do riso

Ele rio na primeira margem!

Gargalhou ao molhar os pés nas águas

No barulho silencioso da superfície sempre se mudano

Flutuano flutuano flutuano 

em pequenas ondas que vomitavam a vontade de não ir

Mas foi

Oxum o chamava coagulano lá no fundo 

Coagulano coagulano coagulano 

se mudano as águas

Mas não o queriam ir, ficaram chamano

Pai pai pai pairano nas ondas que passavam

Mas algo o puxava ao barulho do silêncio.

 

Ele rio na segunda margem

Colocan'um dos pés no barco

Gelano com o vento suave

E o outro logo atrás, encharcado com as lágrimas do menino

misturadas nas águas

Remano remano remano no lodo, louco, diziam

E foi-se atrás da mãe Oxum

Calano as vozes de lá fora 

Desceno nas misturas lavano o riso 

Deixou a margem sem nem olhar o velho.

 

Ele rio na terceira margem 

A gargalhada do silêncio

Ondulano ondulano ondulano em’contro com a mãe

Sumino nos braços molhados

Deixa deixa deixa ele ir!

Xiiuu!

O menino deixou as lágrimas e fugiu

Não houve quarta margem do riso

Só o rio sorriu.


Por: Amanda 

Comentários

  1. Adorei! Criatividade, movimento, leveza! Água que é de Oxum, águas de memórias negras, ancestrais. E o riso, invertendo a ordem da dor do conto rosiano. Muito boa sua perspectiva de recriação!

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    1. Gratidão Nívea! Não tinha como ler o conto de Guimarães Rosa e não lembrar da mãe Oxum. A mãe das águas doces! É a única explicação que encontro para o "pai" ter ido morar no rio, no riso.

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  2. Muito criativo o seu poema Amanda, utilizou uma linguagem intersemiótica muito interessante, pois vejo uma associação com o conto e com o filme, bem como muitos detalhes que você enriqueceu.

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    1. Gratidão Maklina! Sinto-me honrada com comentários de mulheres maravilhosas.

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  3. Gostei imenso, meus parabéns Amanda

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